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o "Invisível" se nutre com propósito

  • Foto do escritor: Rafaela A. Parra
    Rafaela A. Parra
  • há 3 dias
  • 4 min de leitura



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Em 1º de janeiro de 2025 escrevi um texto sobre “intenção”, desejando fosse ela o centro de nossas decisões no ano que se iniciava e, que, agora, se despede de todos.


No começo do ano eu já tinha consciência de que “não basta querer, é preciso conquistar”. Eu sei, na teoria tudo é mais fácil, um mar sem ondas, calmo e tranquilo.


Na prática a intenção vive (ou morre) na forma como lidamos com expectativas, frustrações, silêncios, limites, recomeços. Posso dizer que eu sou uma pessoa de intenções, quem me conhece, sabe. E hoje quero compartilhar uma conclusão muito íntima, que talvez não tenha ficado tão clara àquela época:


“O que sustenta a intenção raramente é visível. O invisível, por sua vez, é nutrido com propósito.”

Sou advogada. Erra quem pensa que nós, advogados, trabalhamos com processos, números e páginas e páginas de escritos a serem interpretados. Trabalhamos com pessoas, com vidas, sentimentos...trabalhamos com almas e corações. Digo mais, nossa intenção vai de encontro à gestão das intenções alheias, todos os dias.


Parece complicado e é! Não fosse só a complicação, quanta responsabilidade!

Em todo evento ou palestra que vou, algum profissional diz: “a reputação hoje se mede por seus relacionamentos, pela gestão das pessoas ao se redor, por conhecer seu cliente, por gerar conexão de longo prazo com parceiros...blá, blá, blá.”


Quando falamos de relações humanas tudo parece tão fluido. Acontece que, embora humanos, não somos todos iguais, não sentimentos da mesma forma, não reagimos de maneira linear. Há forças que não se deixam ver, mas organizam tudo. Não ocupam espaço, não fazem ruído, não pedem licença, e, ainda assim, determinam rumos, vínculos, quedas e permanências. Pare e observe as situações ao seu redor para refletir se não é exatamente dessa forma que ocorre.


O invisível pode deixar um ambiente preenchido de felicidade num momento e, num piscar de olhos, transformar o mesmo ambiente em hostilidade, basta que se alterem condições...invisíveis a olho nu.


Aqui entramos no ponto central da mensagem que quero trazer sobre o “invisível”. O invisível não é ausência ou excesso de algo, é uma camada profunda da realidade.


Desde a filosofia antiga, compreendemos que o visível nunca foi suficiente para explicar o mundo. O que sustenta as coisas não é aquilo que se mostra, mas aquilo que as alicerça, em silêncio, que não depende de tempo, intensidade ou proximidade física.


A confiança não se mede, mas constrói relações. A intenção não se toca, mas orienta escolhas. O afeto não necessariamente se prova, mas sustenta vínculos. O sentido não se fotografa, mas dá direção à vida.


As relações humanas, no fundo, sempre foram regidas por essa lógica silenciosa. Não permanecemos por conveniência apenas, mas por ressonância, por conexão, por magnetismo. Não rompemos apenas por fatos, mas por desalinhamentos invisíveis. Há algo que antecede a palavra, o gesto e até a decisão consciente, um campo sutil onde tudo começa a se mover antes de ganhar forma.


Chamemos isso de consciência, ou, para alguns, de ética, ou, para outros, de fé. O fato é que algo fundamenta o invisível.

Vivemos uma era obcecada pelo que aparece: resultados, números, performances, imagens, likes. Mas os maiores colapsos raramente nascem do que é visto. Eles surgem quando se ignora o que não se mede, que é justamente o desgaste interno, a incoerência silenciosa, a erosão dos vínculos, a perda do sentido. O invisível, quando negligenciado, cobra caro.


Também os encontros humanos seguem essa lei. Não é o que se promete que sustenta uma relação, mas o que se oferece sem alarde, a entrega comprometida. Não é a intensidade inicial que mantém alguém, mas a coerência cotidiana, a conexão de entregas.


Talvez amadurecer seja aprender a ler esses sinais sutis. Compreender que nem tudo que reluz é ouro, e que quase tudo que dá frutos, bem antes de ser intenção, já tem conforto no invisível. Por outro lado, há uma sabedoria em respeitar e aceitar que há zonas da vida que não se dominam, apenas fluem.


E aqui reside um ponto fundamental: o invisível também nos ensina o limite.


Precisamos, lembrar, também, que quanto mais nos afastamos de movimentos “8 ou 80”, de respostas literais, de verdades “preto no branco” mais nos aproximamos da plenitude de gerir o fio invisível que nos nutre: o equilíbrio possível, no 50/50 tão imperfeito, mas honesto e estável.

Não controlamos tudo. Não compreendemos tudo. Por isso não conquistamos tudo. E onde podemos ser conscientes, há escolhas que exigem renúncia. Há caminhos que se afirmam justamente quando outros são deixados para trás. A vida, em sua arquitetura mais profunda, não é acumulação, é seleção.


Talvez seja essa a lição mais dura e mais libertadora do invisível: ele nos lembra que plenitude não é posse total, mas coerência possível. Que viver bem não é ter tudo, mas sustentar aquilo que faz sentido diante do que não se pode ter.


Gerir o invisível é difícil, porque envolve a soltura do ego. Como ensinava Ajahn Chah, o ego é uma ilusão persistente: quanto mais tentamos protegê-lo, mais nos afastamos do todo e da gestão do invisível harmonioso.


Se conseguirmos despir o ego, a tarefa se torna mais fácil, porque, no fim, a verdade que atravessa a filosofia, a fé e a experiência humana permanece simples, incômoda e irrevogável, como um dia nos disse Al Pacino:


“tudo não terás.”

E é exatamente aí que começa a sabedoria. Para gerir o invisível, precisamos de propósito e foco em direção à nossa intenção!


A minha intenção sempre se direciona para o invisível que não se explica e na crença que me rege, de que o bem atrai o bem. Já disse e repito, a minha razão sabe, que na batalha com o coração, ela sempre perderá.


Agora reflita, qual a sua intenção e como anda a gestão do seu invisível?

 
 
 

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©2025 por Rafaela Parra. 

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